terça-feira, 29 de abril de 2008

O clamor de um novo convertido

A Raquel, filha do Pastor Jeremias De Varzea Paulista nos enviou este texto:

Recomendo a todos a leitura deste texto. Fiquei tão envolvida que o li em menos de 5 minutos!

Gaste este tempo, vale a pena refletir sobre as coisas que este jovem diz!

O clamor de um novo convertido

[texto retirado do site http://servosdecristo.tammerik.com/index.php]
Ricardo Gondim Rodrigues

Meu nome é Iuri. Curso pós-graduação em ciências sociais. Defenderei minha tese dentro de mais seis meses. Há um ano experimentei uma autêntica revolução interior. Converti-me ao cristianismo em uma igreja evangélica. Falei de revolução porque, à semelhança dos processos revolucionários, minha experiência de conversão deu-se com violência.

Depois de convertido, visitei várias igrejas evangélicas. Familiarizei-me com as sutis diferenças de uma a outra denominação. Hoje, depois de batizado e membro de uma comunidade local, desejo expor como era minha percepção dos evangélicos antes de converter-me. Depois, desejo ainda, externar minhas reações, como novo convertido, ao que aprendi sobre o mundo evangélico em minha peregrinação buscando uma igreja.

Cresci em um lar católico nominal. Durante toda minha infância, não me recordo uma vez sequer que meu pai tenha freqüentado uma missa. Minha mãe ainda nos relatou de seu passado em um colégio de freiras. Obviamente sua abordagem foi negativa. Cresci distante do mundo religioso.

No segundo grau, quando estudei história, ouvi sempre dos professores que a igreja, notoriamente a cristandade ocidental fora responsável por séculos de obscurantismo, perseguições étnicas, guerras religiosas estúpidas.

Quando ingressei na faculdade, creio ter entrado em igrejas apenas duas vezes. Em um casamento, e na missa de sétimo dia de um amigo. No casamento nada entendi do que o sacerdote falava e no ofício fúnebre, ainda sob o impacto da morte de meu companheiro, nada ouvi e nada guardei de tudo o que aconteceu.

Nunca entrei em uma igreja evangélica. Conhecia os evangélicos apenas pela capas da revista Veja e dos vários escândalos envolvendo alguns líderes de igrejas nacionalmente reconhecidas.
Conheci o primeiro evangélico no terceiro ano de faculdade. Roberto participou de um debate sobre cidadania e compromisso ético. Confesso que no momento em que usou da palavra, cheio de preconceitos, achei que falaria muita asneira e que, valendo-se de um discurso reacionário e antiquado, seria ridículo. Mas, seus argumentos foram despretenciosamente simples, organizados e academicamente coerentes. Citou suas fontes, falou com autoridade. Algo me atraiu no discurso daquele jovem. Procurei-o para conversarmos.

Tornamo-nos amigos. Depois de uma longa amizade, Roberto convidou-me a participar de um encontro de um grupo da Aliança Bíblica Universitária. Discutimos muitas vezes sobre a validade da fé, sobre o adoecimento do cristianismo nos corredores das instituições religiosas.

Expus abertamente minha indiferença ao clero que se locupleta com as esmolas das elites. Perguntei se a igreja não se envergonha do que fez aos índios latino americanos. Insisti em querer saber onde estavam os discípulos de Cristo quando os judeus eram queimados na inquisição espanhola.

O Roberto e tantos outros do grupo da ABU engajaram-se numa autêntica peleja, buscando responder minhas inúmeras inquietações. Numa determinada tarde de sábado, alguém me perguntou se eu já lera a Bíblia. Envergonhado, respondi que não. Eu discutia e falava de um assunto sem estar familiarizado com seus pressupostos básicos. Pedi que me dessem uma Bíblia. Acrescentei que não desejava um exemplar com comentários de ninguém, eu mesmo queria tirar minhas conclusões do texto. Comecei em Mateus e quando terminei o capítulo sete, com o término do Sermão do Monte, meus argumentos e minha zanga já haviam caído por terra. Ainda em conflito, numa autêntica guerra dentro de minha alma, rendi-me ao Espírito de Cristo. Tornei-me um cristão resoluto, apesar de toda minha inquietação.

Depois que tornei pública minha decisão de tornar-me um seguidor de Cristo, pedi ao Roberto que me levasse a conhecer o universo evangélico. Ainda bem que minha conversão deu-se no secreto do meu quarto, pois o que testemunhei nas diversas igrejas que visitei me assustou.
A primeira igreja que visitei era bem tradicional. A sua formalidade litúrgica me surpreendeu. Percebi que a sua maneira de cultuar a Deus fora importada de sua matriz no estrangeiro. O coral cantava as mesmas músicas que sua sede, o pastor falava com o mesmo tom de voz e até a ordem do culto obedecia uma lógica estrangeira. Perguntei-me a mim mesmo porque os pastores insistiam em serem meras réplicas de um modelo de fora. A beleza do cristianismo não está em sua catolicidade? O jeito de cultuar a Deus não deve ser o nosso jeito? As músicas que esses estrangeiros trouxeram eram antigas canções das tavernas e bares da Europa e dos Estados Unidos. Porque as expressões culturais de nosso povo devem ser menosprezadas? O que mais me inquietava nesse tradicionalismo litúrgico era a incoerência de seus líderes se dizerem filhos do iluminismo; se gabarem de sua tolerância, bradarem uma ecumenicidade radical, mas na hora de praticarem tudo isso, eram bitolados e restritivos.

Em minha busca por uma igreja, visitei várias denominações pentecostais. A princípio me encantei com o fervor dos seus membros. Pareciam-me entusiasmados pelo Senhor que serviam. Havia uma santa anarquia na liturgia. Mas, qual não foi minha decepção, quando compareci a reunião que chamaram de culto de doutrina. Achei que refletiriam sobre um tema da Bíblia e se aprofundariam nele. Tudo o que ouvi foi proibições. O patrulhamento mental que se procurava exercer sobre as pessoas assustou-me. Na verdade, escandalizei-me. Jamais imaginei que havia tanta mesquinhez no cristianismo. Ainda não consigo imaginar que o Deus criador e sustentador do universo esteja fiscalizando o tamanho do cabelo das mulheres ou se indignando com os meninos jogando futebol.

O fervor do mundo pentecostal me levou a procurar algumas igrejas que mantivessem o mesmo perfil carismático mas em melhor sintonia com os tempos que vivemos. Visitei o mundo neo-pentecostal. A igreja que freqüentei era nova, seus pastores vestiam-se com ternos bem talhados, o culto ágil. Mais uma vez, me decepcionei muito. Acredito que não fosse o cuidado de meu pequeno grupo de universitários que se reunia no campus, eu não teria permanecido na fé. Mal pude acreditar quando um pregador falou no púlpito que o verdadeiro cristáo sabe colocar Deus no canto da parede e reivindicar os seus direitos. Espantei-me com a paranóia que o mundo espiritual gera nas pessoas. Quantas vezes ouvi sermões desconectados do texto bíblico, repletos de chavões e vazios de conteúdos. Vi tantas pessoas lotando os templos neo-pentecostais mas em uma profunda crise de identidade. Acredito que esses grupos prejudicam muito o testemunho cristão na sociedade.

Hoje pertenço uma igreja que acredita nas contemporaneidade dos dons espirituais, bastante missionária e profética em sua caminhada. Procuramos ser autênticos em nossas expressões de espiritualidade. Meu pastor não é um líder carismático que se distanciou da comunidade, mas um amigo e parceiro de sonhos. Acreditamos que a reflexão bíblica deve ser um exercício tanto da mente como do espírito.

O que escrevi aqui visa ajudar os pastores. Desejo expressar como pensa um jovem universitário hoje. Sem querer assumir uma posição presunçosa, quero deixar alguns conselhos aos líderes cristãos.

1) As pessoas não se interessarão pelos conteúdos da mensagem do evangelho apenas pela publicidade que se faz na mídia. Quanto mais dinheiro se gasta na mídia, mais as pessoas acham que o mundo evangélico é uma armadilha de aproveitadores quer se valem da boa índole do povo. As igrejas devem concentrar esforços em gerar homens e mulheres com um testemunho de vida contagiante. Somente o seu entusiasmo e sua abundante vida despertarão outros a quererem conhecer mais de Deus.

2) Quanto mais parecido for o pastor de um empresário, menos as pessoas se interessarão em ouvi-lo. Quanto mais humano e integro, maior será sua credibilidade. As pessoas buscam lideranças espirituais e não gerenciais. Por favor, pastores, não esqueçam do conselho de Pedro: "Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho." I Pedro 5.2-3

3) As igrejas precisam ser espaços comunitários. As igrejas não existem para perpetuar a instituição e nem como balcão de serviços religiosos. Elas não podem estar a serviço dos desejos megalomaníacos de seus líderes. Igreja é lugar de afeto. Lugar onde o amor de Deus se adensa nas pessoas e se multiplica no próximo. O culto precisa se expressar com liberdade, racionalidade, fervor, e acima de tudo companheirismo. O cristianismo é pessoal mas só se concretiza em comunidades, por isso é que Jesus afirmou que ele edificaria uma "eklésia", ou seja, uma assembléia, uma família, um organismo vivo.

Hoje, acredito que há outros jovens como eu que se curvariam diante de Jesus Cristo. Só não o fazem porque há muito preconceito e muita resistência ao evangelho. Se nós reconhecêssemos nos parcela de culpa em afastar as pessoas de Cristo, já seria um bom começo. Aquele que converte uma vida é sábio. Peçamos, portanto, sabedoria para o povo de Deus. Eu estou disposto a fazer minha parte para que sejamos sal e luz.

domingo, 27 de abril de 2008

Para que o mundo creia

Fazem quase trinta anos, mas nunca vou me esquecer.

A Igreja era pastoreada pelo famoso Pastor Jaime Kratz, homem santo - que saudades. Como aprendi com meu pai espiritual, apesar de que só fiquei um ano ali. Lembro-me do seu amor e do seu caráter cristao, das suas histórias e experiencias e ainda depois destes quase trinta anos cantarolo seus canticos e hinos (ele fazia umas traducoes e cantava com o coracao) e as vezes prego usando pedacos de suas antigas mensagens.

Havia um hino que se cantava na Igreja do Nazareno em Campinas, na Avenida Francisco Glicerio. Era 1979, ano em que me converti ao Evangelho.

A letra ainda tagarela na minha mente após 29 anos, como se fosse ontem, embora eu nunca mais tenha ouvido esse hino.


Pai somos gratos
A verdade em Cristo temos
E a mensagem que nos deste a espalhar
Sabemos que em teu nome temos o direito
De nos chegarmos ao teu trono e orar.
E pelo dom da Salvacao
Te somos gratos
E pelo Espirito nós um podemos ser
Oh glorifica Àquele que em nós vive
Deixando o mundo em nós
O amor de Cristo ver.


  • Estas palavras nunca sairam do meu coracao: Glorifica Àquele que em nós vive, quer dizer glorifica a Jesus que em nós vive.
  • Como Jesus pode ser glorificado?
  • Jesus será glorificado, se nós, seus discípulos vivermos em amor e esse amor for visto pelo mundo.


Viver em amor e esse amor ser visto

Lembro-me de uma pregacao do Rev. Caio Fabio em Recife mais ou menos em 1995, sobre o texto de Hebreus

Porque os corpos dos animais, cujo sangue é trazido para dentro do santo lugar pelo sumo sacerdote como oferta pelo pecado, são queimados fora do arraial. Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos pois a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio. (Heb 13:11-13)

E o pastor explicava como Jesus foi crucificado fora dos muros de Jerusalém, fora do arraial e que nós também devíamos levar a sua vergonha, sofrer com ele, sairmos do nosso mundinho pacato e irmos as ruas levado a mensagem de Cristo.

Eu sempre me senti muito confortável na Igreja. É gostoso estar com os irmaos.
É gostoso ouvir uma boa musica evangelica, cantar, bater palmas, aprender.
Que delicia ouvir a Palavra de Deus, muito embora ela esteja cada vez mais rara.

Uma vez um homem me ameacou na rua - foi pegar um facao (felizmente o Senhor me socorreu e os vizinhos o dissuadiram), mas ele apagou um cigarro no meu rosto (mas gracas a Deus nao senti - nao sei o que Deus fez).

A rua tem tantos perigos, tem os carros passando e poluindo o nosso ar, ladroes que nos ameacam, pessoas que nos confrontam, zombam, ignoram, desprezam.

A Igreja tem os irmaos, musica, ar condicionado - o som é bom - nao é como na rua onde nao nos escutam. E é fácil amar os irmaos.

É dificil amar os incrédulos.

Aí está o desafio?

Ser sal fora do saleiro, sair do arraial, que o mundo possa ver em nós o amor de Cristo - lá fora.

Quando eu morava e Pernambuco tinha uma rede de arrasto de 10 metros e eu e um amigo às vezes passávamos a noite pescando e falando das coisas de Deus.

Nós pegávamos peixes pequenos porque nao nos afastavamos da praia, iamos arrastando a rede (de arrasto) paralelamente a praia e aí retirávamos a mesma.

Eu me lembro que eu olhava com certa inveja para os barcos de pesca que avancavam mar a dentro e cujos peixes eram muito maiores do que os que conseguíamos.

Eu queria pescar assim, mas estava muito ocupado com outras coisas para investir nisso.

No reino de Deus tambem é assim muitas vezes conosco - estamos tao ocupados que nao podemos nos dedicar ao mais importante negocio de todos: pescar almas para Jesus.

E o tempo vai passando, a vida se encurtando e voce tem a nitida sensacao de nao ter feito nada por amor ao Senhor.

É verdade que nessa questao nunca nos sentiremos bem. Ele fez tanto por nós. O que poderíamos fazer para de alguma forma dizer: Pai, sou grato.
Como poderíamos dar a Ele um presente tao grande como o que Ele nos deu?

Nunca - sempre seremos devedores, mas por questao de consciencia, por sentimento de dever, por gratidao, por amor, pelo chamado que Ele nos fez, porque outros fizeram isso e fomos alcancados, saiamos tambem nós fora do arraial, levando o seu opróbrio, sofrendo fora da porta e fazendo o nome do Senhor Jesus exaltado.

Deus abencoe.